sexta-feira, 29 de maio de 2009

FECHANDO O VERÃO... - CANÇÕES DO DESESPERO



Águas de Março
Tom Jobim


É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol

É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o MatitaPereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira

É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé

São as águas de março fechando o verão,
É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
pau, pedra, fim, caminho
resto, toco, pouco, sozinho
caco, vidro, vida, sol, noite, morte, laço, anzol

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração.


Nada será como antes

Milton Nascimento & Ronaldo Bastos

Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos
Que notícias me dão de você
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Existindo na boca da noite um gosto de sol
Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes, amanhã


O Mundo É Um Moinho

Cartola

Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção querida
Embora saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó.

Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés



O MUNDO É UM MOINHO... UM MOINHO... UM MOINHO... QUE TE REDUZ A PÓ!

Ricardo Celestino

quarta-feira, 27 de maio de 2009

SOCIEDADE ALEGRIA (MALDITA QUEDA ELETROPAULO)

Certo,

acabei de compor a melhor crítica do universo e a luz acabou.

MALDITA TECNOLOGIA FILHA DO INFERNO! MALDITO COMPUTADOR! MALDITO BILL! VÁÁÁÁÁ!


Enfim, falava sobre o blog do menino Erick, ÓVEIPA, escrevi um texto grande, todo cheio de fru fru fru, e aí, PUFF!

Agora também, se vocês quiserem saber o que eu havia pensado sobre o post do menino vou soltar umas palavras-chave:

1 - livre arbítrio.

2 - sociedade.

3 - a insustentável leveza do ser (se não leram, por favor!)

- Ricardo Celestino (aguardando a próxima queda de energia)

terça-feira, 26 de maio de 2009

BITCHES BREW

E ela foi saindo tão leve, tão natural
E seus sopros, seus sonetos metálicos,
Tão breve, tão sensual,
A eloqüência de seu verso de rimas tão ricas,
Tudo tão perfeito quanto Cabral.

Foi surgindo em balaiadas de arpejos,
Dissonantes de oitavas e quartas,
O improviso de um sensitivo,
De um sentimento, de uma emoção.

Quantas notas, da leveza do mar,
Da dureza das ruas, do Sol queimando-lhe o rosto
Aqui e lá.

E vem mais, mais metais e mais versos,
Mais rimas, mais vozes,
E a solidão acompanhando cada som metálico
Provando que a multidão são pequenos navios apressados.

- Ricardo Celestino ouvindo Miles Davis - Round Midnight

segunda-feira, 25 de maio de 2009

OLHOS NOS OLHOS, E UMA VONTADE GIGANTESCA DE SER CHICO BUARQUE...

DESNECESSARIAMENTE DISTANTE

E mesmo tudo sendo sem sentido,
Eu encontro em uma sombra uma rota,
Um caminho,
Que me guia ao que sonhos levarão.

Amar você é desfrutar subjetividades,
Nas objetividades do mundo moderno.
Amar você é eternizar-se no agora
E futurizar um bom presságio
Eternamente ao seu lado.

E o que dizer do passado,
Se amar você é uma história, dia-a-dia.

Se dissessem que nada vale a pena,
Eu diria que tudo vale mais a pena
Sabendo que hoje estou com você.

- Ricardo Celestino

E de pouquinho em pouquinho a gente vai dando um jeito de ficar NECESSARIAMENTE JUNTOS, e de repente todo mundo vai falar CARAAAAALHO, ESSE CARA É LOUCO!, ou quem sabe PO, EU JÁ SABIA, E QUEM É QUE NÃO SABIA?, mas no fim, é mais uma PA acontecendo no mundo.

Mas digamos que é a PA mais perfeita e sincera do mundo!

- Ricardo Celestino

sexta-feira, 22 de maio de 2009

AMOR FINADO

Sinto muito amor,
Não conseguir anunciar minha partida,
É que você já fez tão bem a minha vida,
Que não sei qual serás a minha dor.

Ainda bem que vês,
Que minha vida não anda assim tão decidida,
Que se dedico o sol a sol a estas bebidas,
É que já não sei mais o que fui e o que tu és.

Lembra bem querida,
De nossas brincadeiras e de nossas alegrias vivas,
Por que viver desta imagem indecisa
É desviver todos os sonhos de nossas vidas.

Ainda bem que na noite escura ainda tenho companhia,
Mesmo sabendo que a corda se afina
E que de tão fino um dia tende a estourar.


- Ricardo Celestino

(pensando em um roteiro que acabei de ler pela manhã)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

UM POUCO DE PUNK ROCK EM NOSSAS VIDAS

Hoje acordei com vontade gigantesca de escutar Ramones, então, gostaria de desejar a todos um bom punk rock no dia de hoje.

Escutem Ramones, Damned, Buzzcocks, Clash, Stiff Little Fingers, Vibrators, New York Dolls (embora não seja punk anda junto), MC5 (idem), e aí, quando enjoar, voltem a falar de violão, São Paulo, amor, tédio, raiva, euforia, angústia, e MPB.

Será que uma coisa se assemelha a outra? Ou eu preciso realmente dividir-me. Hoje estou de moicano, amanhã de terno, gravata e óculos a lá João Gilberto, hoje eu me fantasio de travesti e amanhã sou apreciador de pianos bem tocados.

Acho que na realidade, nós somos uma grande tropicália. O Brasil é uma grande tropicália, vai de Carlinhos Brown à Iron Maiden facilmente, todos os dias, talvez na mesma sequência no Media Player. E aí, um leitor atento falaria, cassete! Você critica a virada cultural por misturar rondó com forró e fala que o Brasil é naturalmente um rondó e um forró?

É, sei lá, eu acho que existem influências tropicalistas alienantes nessa vida. Cada um tem que saber o tropicalismo que lhe toque e lhe desenvolva. Talvez você escutando Ramones seguido de João Gilberto dê muitas náuseas, mas conheço muita gente que aceita um Joy Division seguido de Vomito Negro, Prodigy e coisas que não me descem muito bem.

Já que estamos na era moderna, o tropicalismo é facilmente realizável no nosso quarto, no nosso computador. O problema é quando estamos concentrados demais em digitar, em ler besteiras e toda aquela informação não é mais cultural, é um simples som ambiente, um nada passando por aí. Tal como na Belle Epòque...

Direto do túnel do tempo, o Brasil e o mundo regredindo... regredindo... mas ao mesmo tempo evoluindo... evoluindo... é o tropicalismo. É o barraco sem número identificado por um condomínio fechado logo ao lado.

Tropicalismo, de Ramones à virada cultural, à fome, à miséria...

E daí eu questiono, se virada é realmente cultural, por que uma noite de zumbis e não um catso de sessão de Cinema Novo? Eu estou louco para assistir Cinco Vezes Favela e parece impossível de se achar esse filme.


- Ricardo Celestino

quarta-feira, 20 de maio de 2009

MINHAS PRIMAS E MEUS FIÉIS

Parecem que combinam em sentir as mesmas fés,
Proclamando o mesmo canto em todos os bordéis,
Vivem minhas primas, junto de teus fiéis,
E eles te gorjetam com notas de papéis.

Aparecem na paróquia, vestindo a batina,
E deixam a safadeza para ali daquela esquina,
Pescam os olhares dos garotos e das meninas,
E diz que é errado suspirar por minhas primas.

Dançam quando o sol é só uma lamparina,
Aproveitam que outros fiéis foram dar uma dormidinha,
E descansam bem ali, ao lado de minhas primas.

terça-feira, 19 de maio de 2009

ACALENTADOS

Num bar da Mooca...

Observei que meu copo esvaziava. Reparei que meu olhar vacilava. Tentei ver mas só vi assombreado, o tempo ficava nevoado. Levantei e me joguei pro lado, com cuidado, não caí no chão. Pedi a conta e apertei a mão do garçon. Seu nome era Thiago.

Saí carregado do bar,
Não conseguia nem enxergar.
Pisei torto no chão,
E pus meu carro, na contramão.
Só vi a lanterna acender, e mais nada,
Acordei com a cabeça inchada.
Sacudi a poeira do corpo,
Estava morto? Que nada.
Só parei quando encontrei minha morada,
Na rua de cima, casa cor de barro.
Avenida bem movimentada, eu moro
Na Paes de Barros.

Uma das pessoas mais queridas que já vi na vida, Carolina, me abraçou e me beijou. Estava suado, com um pouco de frio e um pouco de calor. Naquela hora da noite, com aquela geada, o sangue quente por causa da marvada, despi minha roupa e fui logo pro banho. Me acalentou. Me acalmou. Quase dormi e Carolina me trocou.

Segurar tua mão não é sofrimento algum,
Eu me orgulho de ter um marido bebum.
Me apaixonei quando éramos estudantes,
Agora você saí e eu cuido de nossos brilhantes.

Calma que a vida é uma praça,
Todo mundo vê, todo mundo anda e comenta,
Eu sei que não se vive sem a graça,
D ser um boa-praça, pra seguir em tormenta.

Quando vem eu quero logo te trocar,
Não suporto este teu cheiro de bar.
Diga logo o que trouxe para mim,
Fico aqui esperando meu querubim,
Ai de mim.

Eu me troco e fico pronta para amar,
Mas você vem correndo a decansar,
Não me espera, mas eu me ponho a sorrir
Vendo você, meu bebum, dormir.

Minha mãozinha passeava nos cachinhos ralos. Ele que era dono de uma cabeleira grande, hoje na tua cabeça dá pra encontrar até calos, calos de vivência, experiência, pensador. Uma das coisas mais bonitas que me disse um dia foi, Carolina venha só ver o que pesquei pra você, e no pesqueiro tinham deixado cair uma bota suja molhada. Ai que engraçadinho, ai, que nada. Ai, que menino, ai que marido... ai que acalentada!

De noite meu pescoço vazio,
Chama pro macio, meu amor.
Eu só queria que passasse essa dor,
Essa quentura que vem e que desacalenta,
Eu queria escrever um jornal, um livro, um recado,
Passo mal.
Não me sinto bem,
Não é enjôo de neném.
Estou magoada,
Não estou menstruada,
Estou angustiada,
Não estou desempregada.

Me chamaram pra uma festinha,
Você disse que já vinha, que já ia chegar.
Deixei pra lá, vou te esperar,
Dá-se um jeito pra gente ficar.

Você me avisou que o ônibus atrasou,
O bar inundou,
Que teu pé entortou,
Que o médico faltou,
Que teu patrão te ligou,
Teu pai te chamou.

Deixa assim, deixa bem,
Fica pra outro dia, outro dia você vem.

E quando chegou,
Me acalentou.

- Ricardo Celestino

segunda-feira, 18 de maio de 2009

AMIZADES, PAIXÕES E BEBEDEIRAS

O que é estar de passagem?
Se não ganhar asas e desfrutar de liberdade,
pra quê?

Conseguir correr, gritar na mesma intensidade que
Chorar, sorrir e lutar,
se estar só passando é deixar,
como em um tronco que deixa marcado tua passeada.

E se estar de passagem é andar, andar e andar,
tem que ter para isso bons companheiros,
boas companhias,
que te presenteiam todo dia com surpresas.

Um dia talvez venha-lhe uma vontade de correr ou parar,
sair um pouquinho do alcance de todo mundo,
mas estes companheiros de pernadas vão parar se você estiver cansado,
ou irão correr atrás de você para presenciar tua vitória ali,
ao vivo.

E no momento que você mais precisa de todo mundo por perto,
Pode ser que não estejam,
Eles também correm e você também deveria acompanhá-los,
então vai lá camará,
dá uma ligadinha e chame-os para umas cervejas,
compartilhar andanças na mesa parada
que movimenta moinhos,
que gera energias,
que forma bacharéis e realiza artistas.

É só não cair no esquecimento
sempre lembrar que
A vida é um cimento se estruturando,
Uma construção,
um pedacinho,
uma porçãozinha de tentativas,
e que se na vida não tiver companhias,
companheiros,
vale o que?

Se só deixar ir sem ter ninguém para te ver sorrir,
Acaba por ter que mandar ofício de amizade
e convocação para felicidade
com data e hora marcada.

Valeu, camaradas!

Ricardo Celestino

sexta-feira, 15 de maio de 2009

SÃO PAULO

Escolhe alguma coisa pra eu comer?

Dá uma bala, uma flor pra namorada?

Eu podia estar matando, roubando, sequestrando...

Escolhe alguma coisa pra eu viver?

Bala ou flor pra namorada?


- Ricardo Celestino


SOLDADO DE PAPEL

Conheci um soldado de papel
que em banho d´água se desmanchava,
Soldado que marchava,
de roupagem, marcado, de tonel.

O soldado de papel
No vento livre se encolhia, chorava,
Esperava limpar o céu.

Esse soldado de papel,
de babel em babel acorrentado,
Se sentindo motivado,
Pois em tua farda um chapéu.

Fuzilado soldado de papel.

- Ricardo Celestino

quinta-feira, 14 de maio de 2009

NOITES TROPICAIS - NELSON MOTA


Tim Maia era amigo de Erasmo desde criança na Rua do Matoso, na Tijuca, quando ainda se chamava Tião e entregava marmitas da pensão de seus pais, dona Maria e seu Altivo, considerado no bairro um mestre dos temperos. Antes da música, o pequeno Tião aprendeu a comer bem e sempre foi gorducho. Quando saia para entregar as marmitas, pendurava-as num cabo de vassoura que levava nos ombros, como um pescador chinês de carnaval. Todos os dias na hora do almoço ele saía para fazer as entregas e, balançando suas latas, passava pelo Largo da Segunda-feira, onde sempre rolava animada pelada. Era irrestível. Em campo, Tião era o mais pesado e, às vezes, o mais violento: ia na bola como quem vai num prato de comida. O exercício lhe abria o apetite e Tião abria as marmitas e tomava uns goles de sopa aqui, beliscava um pastel ali, umas bocadas de arroz e feijão acolá, um pedaço de doce, e com as marmitas mais leves seguia para a entrega.
Tanto quanto de comida, Tião gostava de música. Começou a aprender violão sozinho, ensinou três acordes para Erasmo e os dois tentavam tardes inteiras, em vão, fazer no violão as complexas harmonias do ``Desafinado`` de João Gilberto, que adoravam. Quando depois Tião foi para os Estados Unidos, se correspondia com Erasmo assinando Tim Jobim e recebia abraços de Erasmo Gilberto.
Tião tinha 16 anos qaundo resolveu que iria para os Estados Unidos. Começou a dizer para todo mundo que ia morar com uma família americana num programa de intercâmbio, fez uma campanha de arrecadação de fundos na família e conseguiu, depois de suplicantes visitas, convencer o bondoso paroco da igreja da Tijuca a completar o que faltava para a passagem de avião, só de ida. Tião tinha falado tanto para tanta gente e dado tantos detalhes da sua ´´família americana´´ que acabou ele mesmo acreditando em sua ficção e se decepcionando: na chegada a Nova York ninguém o esperava no aeroporto. Em Manhattan e depois na vizinha Tarryton, Tião virou Tim e trabalhou de garçom, entregador de pizzas, aprendeu inglês, conheceu a música negra americana, cantou em grupos vocais, fez pequenos furtos e experimentou fartamente tudo que era droga leve e pesada. Uma noite, com três crioulos amigos, foi preso em Daytona Beach, onde estavam fumando maconha dentro de um carro roubado. Passou uma temporada na cadeia em Daytona e foi deportado para o Brasil.
Ba Tijuca, de tanto cantar o rock Bop-a-lena, Tim ganhou o apelido de Babulina. Mas Babulina também era o apelido de um garotão do Rio Comprido, um mulato atlético chamado Jorge, que também cantava Bop-a-lena, tocava violão e fazia parte da guange Os Cometas. Nas rodas da Praça Bandeira, ponto de encontro das turmas da Matoso e do Rio Comprido, já se comentava que Tim iria ter problemas com Jorge, que se considerava o dono do apelido por cantar a música há mais tempo. Mas tudo se resolveu pacificamente e Jorge acabou participando de uma serenata com Tim e Erasmo, no Beco do Mota, deibaixo da janela da generosa Lilica, que costumava receber a turma toda em sua cama, um por um. Chegavam a se formar alegres e ansiosas filas de dez, doze garotos à sua porta, e muitos jovens tijucanos e rio-compridenses tiveram com ela a sua iniciação sexual. Mas naquela noite acabaram todos na delegacia por reclamação dos vizinhos e o violão foi apreendido: a serenata não era de valsas e canções mas de twist e rock and roll.
Com suas festas de rua, na Casa da Beira e na Vila da Feira, os clubes portugueses da área, com suas quermesses e suas festas juninas, a vida na Zona Norte era animada e Jorge estava em todas com seu violão, cantando Bop-a-lena e sempre agradando as meninas, até que começou a fazer suas próprias músicas, passou a usar o nome de Jorge Ben e começou a tentar a vida nos bares de Copacabana.

- trecho de Noites Tropicais, de Nelson Mota.

Esse capítulo vai para um rapaz que voltou recentemente a terras brasileiras e sempre se esforça um pouquinho para ler as besteiras que escrevo aqui no blog! Valeu!

- Ricardo Celestino

quarta-feira, 13 de maio de 2009

VELHO DOCE DA VIDA

Alimentei-me à poesia,
Que alegria deste doce,
Que fosse tão bom se existisse,
Foi o que disse, um velho angustiado,
Iluminado em poucos dias e tão triste,
Que persistisse este açúcar eternamente,
Infelizmente a vida e esse fantasma que nos traga
Acaba.

Ainda que tive a chance de estar em pé,
Minha fé foram as sombras de minhas pernas,
Que pareciam eternas, conformando minhas conquistas,
Hoje artistas que passam minha infância vida a vida,
Numa só ida,
Numa só partida.

- Ricardo Celestino
LIBERDADE

Eu preciso escrever um texto de onze linhas sobre liberdade, e fico imaginando o quão cruel é limitar, questionar, oprimir e direcionar o desejo de outras pessoas. Se quiser beber que vá, se quiser fumar que vá, teus erros acabam sendo teus erros, infelizmente afetando a vida de pessoas próximas, mas teus erros são teus erros e no final das contas quem viverá bem ou mal com eles é você mesmo. Na verdade é o homem-ácido que corrói e varre nosso espaço como varreu civilizações e multidões com questionamentos de sim e não, certo e errado, bem e mal. Vassorinnhas mágicas que não deixam rastros, mas sabem como que é, um dia você tem que abri-las e limpá-las, senão a poeira toda cai no meio da sala e a sujeira de hoje vai ser amarrotada com toda aquela sujeira carregada de outras limpadas. Pena esta limpeza ser tão desnecessária às vezes.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

SOLIDÃO

Nossos instintos são tão fracos
Que nem meu reflexo eu percebo
Observo em meu retrato
Anos de desassossego.

Solidão, não me deixe
A companhia de minha sombra
É um cabide a apoiar meus vestidos.
Eu preciso de um corpo, sim.
E quem é que não precisa?
Mas solidão não me deixe,
Mesmo nas horas íntimas,
De acompanhar-me eternamente.

Vidros e vidraças são feitos para serem quebrados.
Estilhaça-me coração de papel,
Veja, a pele envidraçada,
O que tenho a oferecer
Nada!

Rompa-me e me corrompa,
Mas solidão não me abandone!
NADA...


- Ricardo Celestino


(um dos poemas do pseudo livro, ainda em .doc no meu computador, O Homem Engarrafado! rs)

Seguindo ainda a idéia de que as pessoas se engarrafam o tempo inteiro, permanecem enclausuradas e fechadas e parece que o mundo moderno é quem emancipa essa coisa toda. A rotina, as decepções, os altos comparados com os baixos, acabam empedrando nossos corações e aí, no fim de tua vida, ualá gênio engarrafado! Todo o conhecimento e tua história consumida e você preso naquela garrafa sem desfrutar de nada, nada, nada, nada, nada.

- Ricardo Celestino, despedindo-se de seu inferno astral em contagem regressiva.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

ENGARRAFAR-SE

A literatura do novo milênio é a literatura engarrafada.

Gênios, gênios, gênios por todo o lado,
Aguardando as mãos mortais lhe acalentarem para o despertar.
Gênios engarrafados,
Tão bons no que fazem,
e pobremente limitados.

Gênios engarrafados acabam escravizados,
a viver a vida engarrafados,
no aguardo...

calma lá que já vem,
calma lá que já já ele vem.

- Ricardo Celestino

quarta-feira, 6 de maio de 2009

VIRADA ACULTURAL

VIRADA CULTURAL

Faça-se já,
Enquanto cá
Já vai tudo indo, obrigado.

Fico feliz em reconhecer que temos um pai que nos escuta,
Obrigado por realizar-me, não deixar-me muda,
Falar, já!

Mesmo todas as outras ao mesmo tempo,
No sábado...

Sábado é dia de folia,
A escravidão começou de uma conversa jogada fora,
E foi, foi , foi.

Alegria, alegria, alegria,
Envenenada, alegria.

Vamos movimentar tudo!
Todos os esqueletos,
E volto a agradecer Deus,
Por fazer-me ouvir.

Um palanque pra quem gosta de percevejos,
Dia-a-dia é chato,
O bacana é uma vez ao ano.

Jesus Cristo obrigado,
Teus percevejos desfrutaram resultados,
Mesmo barrados,
Segundo a lei da eletricidade básica.

Maracatu com sorvete e batida eletrônica,
Rock n´ Roll com samba-rock e partido alto,
Funk com Rio de Janeiro em Estação da Luz,
Zumbis massacrando, festivais de curta com reggae a noite inteira,
Teatro Municipal, Tim Maia e Raul Seixas,
Antropofagia cultural induzida,
Tiro pra todos os lados,
Culto a cultura,
Cultura que não se faz todo dia,
Que não é dia-a-dia.

Com vocês,
Virada cultural,
Only this and nothing more!

- Ricardo Celestino

NOVA ALEGRIA....

ALEGRIA ALEGRIA

Você ouviu?
Você está me ouvindo mesmo?
Alegria não é uma coisa que se compra em supermercado,
Nem se faz bacharelado de alegria.

Alegria não vêm na química do teu ópio,
Nem na dose de teu veneno.

Alegria não está na fila do desempregado,
Nem na gravata do executivo,

Alegria não mora ali, pra que você possa bater, abrir, entrar e dizer,
Bom dia!

Não, não se come alegria,
Não se bebe alegria,
Não se faz sexo com a alegria,
Não se reza alegria.

Nem se caminha contra o vento para ter alegria,
Eu estou aqui caminhando a todo momento,
Você também.

Não é por que teu barraco é de papel,
Ou você mora num bordel,
Ou num condomínio fechado.
Ah! Tem gente pior e mais alegre!

Nem aqui, nem ali, nem na China,
Que você encontra bolachinha chamada Alegrol.

Você pode até traçar uma rotina,
Tentar um planejamento, um gráfico,
Fazer uma poesia, literaturar,
Mas nunca, nunca,
Irá desfrutar inteiramente de alegria
Nessa bosta de São Paulo.

- Ricardo Celestino